Carlos, quero lhe falar.
Você despiu a vida,
vasculhou os arquivos do coração
e semeou versos em meus pensamentos.
Minha cabeça está em flor, Carlos!
Você, meu poeta, que é gauche,
que não segura formas,
que tem sete faces,
que trava com as palavras uma luta vã.
Você que é o sobrevivente,
que tem o sentimento do mundo,
que atira limão n’água,
que gasta tempo pensando um verso.
Você que é Drummond de Andrade,
que até anjo torto já viu...
Stop! Não porque a vida parou
mas porque o Brasil parou para o ler.
Deixe-me, Carlos, embeber suas palavras
e recitar seu amor pela poesia.
Quero lhe falar
para que me permita caminhar por Itabira
pelas ruas desse vasto mundo
(como o mundo é grande!)
e poder enxergar em cada ser uma parte sua.
Devo arrancar, meu poeta, a pedra do meio do caminho
para vislumbrar por de trás de suas retinas fatigadas
a alma de um sonhador.
Um sonhador que imprimiu sua história
nos mais belos versos livres.
Você entrou para a história, Carlos.
Seus ombros definitivamente suportaram o mundo.
Mas você também se equivocou...
A festa não acabou, amigo
nem a luz se apagou...
Porque a sua estrela ilumina essas linhas
E porque você é uma festa em forma de poesia!
Vejo e somente agora tomo consciência de que
...já falei,
...já poetizei,
...admirei e endoideci.
Chamei-o Carlos, poeta, gauche, amigo.
Devo, no entanto, perguntar-lhe:
E agora, Carlos?
Posso chamá-lo José?